Apelativa, desrespeitosa e ultrajante. Assim pode ser definida a campanha de marketing exibida neste último fim de semana nas placas eletrônicas de publicidade em jogos do Campeonato Brasileiro pelo canal Paramount, sobre a série ‘Super Pumped: A batalha pela Uber’.
Em sua ofensiva publicitária, o canal de streaming exibe um carro preto (com o logo da Uber) sobreposto sobre um tradicional táxi nova-iorquino (yellow cab), na cor amarela, em uma clara tentativa de vincular um triunfo do serviço por aplicativo sobre os táxis. Algo que, por mais pretenso que fosse, nunca se concretizou, diga-se de passagem. Além do mau gosto, há um desejo implícito em uma pejorativa tentativa de diminuir essa profissão centenária, que nunca se curvou à empresa.
Uma campanha que pode perfeitamente resultar em infração grave junto ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. Esta é a denúncia que estamos encaminharndo junto ao Conar, responsável por impedir que a publicidade enganosa ou abusiva cause constrangimentos e seja lesiva ao consumidor brasileiro.
A série protagonizada por Joseph Gordon-Levitt estreou em maio e expõe como a Uber nasceu na base da ganância, sem qualquer escrúpulo e sem respeito algum pelas autoridades, usando até os motoristas do aplicativo de carona como massa de manobra para obter lucro e atingir os interesses financeiros e políticos da empresa norte-americana. Tendo essa premissa como pano de fundo, porque então não colocar os milhares de motoristas enganados pela empresa, já que são os personagens mais prejudicados da trama?
Desrespeito às leis e à ordem pública, concorrência predatória, proliferação de carros sem controle pelas ruas das cidades, acusações de fraudes que se multiplicam nas redes sociais, falta de transparência nas políticas empresariais, motoristas sem checagem de antecedentes criminais, processos trabalhistas, veículos sem vistoria de segurança e diversas outras acusações pelo mundo todo. São estas as contradições que deveriam nos assustar.
Mas afinal, quais são os limites éticos e morais de uma campanha publicitária desse porte? Até quando, exploradores continuarão a construir sua própria verdade em detrimento dos cidadãos e enganando aquele que é seu público-alvo, sejam seus motoristas ou seus consumidores?
Ainda mais irônico é saber que a propaganda é veiculada justo agora no momento em que a empresa anunciou uma “parceria” com taxistas nova-iorquinos. Doze anos após o seu surgimento em território americano e com resultados econômicos pífios para serem apresentados aos seus investidores, a plataforma que outrora pretensamente antecipou uma equivocada falência do serviço de táxi em todo o mundo, agora se volta ao mercado dos taxistas. Irônico, para não dizer descarado.
Não adianta querer reescrever a história. Dinheiro nenhum no mundo é capaz de apagá-la.
Táxis são o passado, o presente e o futuro. Vida longa!