Apelativa, mentirosa, desrespeitosa e desesperada. Assim pode ser definida a mais recente ofensiva de marketing da empresa norte-americana Uber em território brasileiro. E que tem desta vez, como alvo, os profissionais taxistas.
Em suma, a campanha veiculada em diversos veículos (principalmente rádios) busca angariar taxistas para aderir à plataforma. E julga, de maneira pretensiosa e descabida, que aqueles que não o fizerem estariam ultrapassados (ou na figura de linguagem utilizada – ‘dormindo no ponto’). Logo eles, que até tempos atrás, repetiam tanto o mantra neoliberal do ‘direito de escolha’ e que agora fazem questão de condená-lo.
Aproveitando-se de seu enorme poder financeiro e econômico (capitalizado por investidores globais que visam unicamente o monopólio do mercado), a empresa segue em sua busca desenfreada de engodos para tentar mascarar a brutal realidade de um modelo que trouxe como consequência, e acima de tudo, a precarização do emprego.
Além de devastação financeira para milhares de trabalhadores, mascarado por um discurso fantasioso e demagogo de geração de empregos. Ainda que erroneamente classificado como autônomo, mas em sua essência, precarizador e essencialmente explorador de mão de obra. Em tempos de pandemia e de retração das atividades econômicas, esse cenário ficou ainda mais evidente.
Mas afinal, quais os limites éticos e morais de uma campanha publicitária desse porte? Que apela e distorce para tentar abocanhar mais uma fatia do mercado que eles sempre julgaram desprezar. Até quando, exploradores continuarão a construir sua própria narrativa por meio de maciças campanhas publicitárias e enganando aquele que é seu público-alvo, sejam seus motoristas ou seus consumidores? E agora no caso, quem diria, taxistas.
Desrespeito às leis e à ordem pública, concorrência predatória, proliferação de carros pelas ruas das cidades, acusações de fraudes que se multiplicam nas redes sociais, falta de transparência nas políticas empresariais, processos trabalhistas, veículos sem vistoria de segurança, denúncias de evasão de divisas e de sonegação fiscal em vários países e diversas outras acusações pelo mundo todo.
A lista é extensa. São estas as contradições que deveriam nos assustar. E que deveriam nos guiar. Os limites éticos e morais de campanhas publicitárias também deveriam passar pelo crivo editorial de empresas tidas como sérias e responsáveis que terão suas imagens vinculadas a este tipo de propaganda.
Do contrário, teremos apenas empresas jornalísticas interessadas na captação de dinheiro por meio de propagandas desqualificadas, do que aquilo que realmente deveria nortear qualquer empresa do segmento. No caso, a sua reputação.